O cruzeiro Costa Concordia, que naufragou na costa da Itália na
noite da sexta-feira passada, se aproximou da ilha de Giglio para homenagear
seu chefe de garçons, que nasceu no local, e um ex-comandante da companhia
Costa Cruzeiros, dona do navio. Uma mensagem publicada no Facebook na sexta à
noite, avisava que o navio se aproximaria da ilha. As informações foram
publicadas ontem pelos jornais italianos Corriere della Sera e Il
Tirreno.
Segundo as publicações, o comandante do transatlântico, Francesco
Schettino, decidiu fazer uma surpresa ao chefe de garçons, Antonello Tievoli, e
ao ex-comandante Mario Palombo. "Vem ver, Antonello, estamos em
Giglio", teria dito ele ao chefe de garçons, que pensou que era uma
brincadeira de Schettino. O capitão do navio ainda está detido e poderá ser
responsabilizado pelo acidente.
Tievoli, de acordo com os jornais, se sente culpado pelo naufrágio, do
qual se tornou protagonista sem querer. Aos moradores de Giglio, ele teria
dito, quando o socorreram: "Nunca poderia imaginar que desembarcaria em
minha casa". Mas, segundo os jornais, desde então Tievoli não quer falar
com ninguém.
De acordo com outro jornal, o La Repubblica, foi a irmã de Tievoli que
escreveu às 21h08 (horário local) em seu perfil no Facebook a mensagem:
"Dentro de pouco tempo passará muito perto o navio Concordia. Um
cumprimento muito grande para meu irmão que em Savona, finalmente, desembarcará
para uns dias de férias", postou.
A aproximação ocorreu minutos depois. O navio - que levava mais de 4,2
mil pessoas - está a metros de distância da ilha de Giglio. A embarcação havia
deixado o porto de Civitavecchia na sexta para um cruzeiro de uma semana pelo
Mediterrâneo.
Vítimas
No último balanço, divulgado ontem, mais um corpo de um passageiro foi
encontrado na embarcação, elevando para seis o número de vítimas fatais do
adicente. Segundo as autoridades, há ainda pelo menos 29 pessoas desaparecidas.
As buscas por sobreviventes foram suspensas temporariamente na madrugada de
ontem, pelo horário local, porque o barco se moveu alguns centímetros e o mar
estava muito agitado, pondo em risco a segurança das equipes de resgate.
Ontem à tarde, a funcionária do Consulado brasileiro em Roma, Cristiana
Pontual, assegurou que todas os 56 brasileiros que estavam a bordo passam bem.
Até o domingo, 27 deles já haviam retornado para o Brasil. Outros quatro
deveriam voltar ainda ontem e seis tripulantes do Concordia aguardavam
documentos. Outros brasileiros seguiram viagem, alguns aguardam documentação e
os demais moram fora do país.
"Pela última lista que nos deram, podemos verificar que nenhuma das
pessoas nos forneceu como telefone de emergência um número com código da
Bahia", explicou a funcionária do Consulado, sobre a maior probabilidade
de não haver baianos a bordo.
Falha humana provocou tragédia
Um erro humano. Foi assim que o presidente da Costa Cruzeiros,
proprietária do navio Costa Concordia, caracterizou ontem o que aconteceu após
o capitão do navio fazer um desvio de percurso “não autorizado, sem aprovação”.
Em entrevista coletiva concedida em Gênova, Pier Luigi Foschi cravou: “A
companhia dará ao capitão (Francesco Schettino) toda a assistência necessária,
mas temos que admitir os fatos e não podemos negar o erro humano”.
“A rota estava correta. O fato de que (o navio) saiu de seu curso se
deve unicamente a uma manobra do comandante que não tinha sido aprovada, (não
foi) autorizada e (era) desconhecida pela Costa (Cruzeiros)”,
acrescentou.
Hoje, uma audiência em Grosseto decidirá se Schettino será acusado por
homicídio culposo (quando não há intenção de matar), abandono de navio e
imperícia ao provocar o naufrágio da embarcação. Se acusado formalmente,
Schettino permanecerá preso em Grosseto.
O comandante Francesco Schettino ingressou na Costa Crociere em 2002,
como oficial responsável pela segurança. Depois de ter sido imediato, foi
promovido a comandante em 2006. A empresa afirmou que: “Como todos os
comandantes de nossa frota, (ele) participou de programas regulares de
atualização e treinamento, superando positivamente todas as etapas de
avaliação”.
A empresa alega que o comandante, possivelmente, tenha cometido erros de
juízo que trouxeram graves consequências. No domingo, Francesco Schettino
afirmou que foi o último a deixar o navio após o naufrágio. No mesmo dia,
diversos passageiros relataram não tê-lo visto durante o caos que tomou contra
do navio ao bater nas pedras e encalhar num banco de areia.
Correio