04 junho 2012

21% das mulheres são alvo de ironia durante o parto

Uma pesquisa divulgada no final de maio avaliou o atendimento obstétrico recebido por quase duas mil gestantes em todo o país. As mulheres compartilharam suas experiências e os resultados mostram os maus tratos mais comuns sofridos por elas. O “Teste da Violência Obstétrica” englobou mães que tiveram filhos por cesárea, parto normal, em casa e em hospitais privados e públicos, e foi feito coletivamente por mais de 70 blogs.


O resultado enfoca a conduta dos profissionais de saúde que atendem as gestantes no momento do parto. “Tivemos relatos de todo tipo de violência obstétrica, como negligência, abuso verbal, físico e sexual”, afirma a jornalista e mestranda de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Ana Carolina Franzon, uma das coordenadoras da pesquisa.
“Cheiro de churrasco”
A pesquisa mostra que 21% das parturientes ouviram comentários irônicos em tom depreciativo por parte da equipe médica que as assistiam. Uma das participantes relata que os profissionais fizeram comentários “sobre o cheiro de churrasco da minha barriga durante a cesárea”. Em outro relato, a mulher afirma que uma das profissionais da equipe médica reclamou por ter que auxiliar o parto no momento do jogo de futebol do seu time. Segundo Ana Carolina, a violência verbal foi apontada como a mais cometida pelos médicos.
“Não temos dúvida de que alguns profissionais desrespeitam as mulheres no momento do parto. Infelizmente isso acontece, mas não deveria. Na maioria das vezes falta um acolhimento da gestante, que passa por um momento importante e único da sua vida”, afirma Coríntio Mariani Neto, obstetra presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e diretor da Maternidade Leonor Mendes de Barros.
Angústia
A pesquisa também revela que 38% das mulheres se sentiram angustiadas nas primeiras semanas após o parto. Metade delas acredita que os sentimentos que tiveram logo depois de ir para casa com o bebê foram influenciados pela maneira como o parto ocorreu.
A psicóloga Karla Rapaport Goldenberg atende gestantes e mulheres no pós-parto e afirma que as mulheres que sofrem violência obstétrica se sentem vítimas e não protagonistas de um momento especial em sua vida. “Ela fica insegura para cuidar de uma criança, já que sente que não conseguiu cuidar de si mesma. A violência sofrida pode contribuir para que ela se sinta angustiada e triste. Além disso, pode surgir aversão a médicos, hospitais ou mesmo ao ato sexual, já que partes íntimas da mulher são manipuladas durante o parto com relativa frequência.”
“A parturiente não espera ser recebida em um ambiente cheio de amores, onde todos a parabenizem e sorriam para ela. Mas ela espera ser tratada com respeito, como uma mulher em trabalho de parto que em alguns minutos será mãe”, ressalta a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo.ig