Dos seis integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que tocava na boate Kiss em Santa Maria (RS) na hora do incêndio onde pelo menos 231 pessoas morreram e outras 131 se feriram, apenas um morreu: o sanfoneiro (gaiteiro) Danilo Jaques, o mais jovem do grupo.
O baterista Eliel de Lima, de 31 anos, contou ao G1 que, antes de deixar o local, desatou a sanfona das costas do sanfoneiro. Eliel diz que foi o último músico a deixar o palco. Nessa hora, Danilo estava parado ao lado da porta do banheiro, ainda preso à sanfona. Foi quando o baterista ajudou o amigo a se livrar do instrumento.
Na imagem abaixo, postada no Facebook da banda, de acordo com Eliel aparecem (da esquerda para a direita) ele, o sanfoneiro Danilo, o percussionista Marcio, o baixista Geovani (mais ao fundo), o vocalista Marcelo e o ex-integrante Wil – todos na faixa dos 30 anos.
"A essa altura, o pessoal já estava correndo, a fumaça levantando, aí não vi mais ele, estava tudo escuro, era uma fumaceira", lembra.
Depois disso, Eliel saiu correndo em direção à saída e ficou esperando em um estacionamento em frente pelos outros cinco companheiros da banda. Aos poucos, os músicos se encontraram, mas Danilo não voltou.
“A gente saiu mal, no meio da fumaça, tive dor no peito. Fiquei aguardando para podermos nos achar, para ver quem tinha saído. Fomos nos encontrando aos poucos e ficamos na expectativa de achar o Danilo, mas ele não apareceu”, relata.
Eliel só ficou sabendo da morte do colega no início da tarde deste domingo, pois mora na cidade de Rosário e foi para casa depois do acidente.
Segundo Eliel, Danilo – o mais novo da banda – “era uma pessoa maravilhosa, parceira, com um jeito alegre e divertido”. Ele conta que tentou ligar para a família da vítima, mas não conseguiu contato, e não insistiu para não atrapalhar nessa hora difícil.
Início do incêndio
Eliel lembra que a banda estava tocando há cerca de meia hora quando o fogo começou. Os integrantes do grupo foram as primeiras pessoas a perceber o incidente, por isso conseguiram escapar rápido, “superapertados”. Para chegar até a saída, tiveram que atravessar toda a boate Kiss, pois o palco ficava no lado oposto ao da porta externa.
“Um segurança chegou com um extintor de incêndio, tentou apagar o fogo, mas o extintor não funcionou”, revela o baterista, que toca na Gurizada Fandangueira há nove meses – segundo ele, o grupo já existe há cerca de nove anos.
O músico diz que não se machucou, apenas se esfolou. Ele conta que ficou em frente à boate por cerca de uma hora, até os bombeiros isolarem a área para pôr os corpos das vítimas na rua. Eliel deixou o local por volta das 4h da manhã.
Show pirotécnico
A banda Gurizada Fandangueira tocava na boate Kiss pelo menos uma vez por mês, de acordo com o baterista. Nas apresentações, o grupo costumava usar pirotecnia, que durava apenas alguns segundos, segundo Eliel.
“Nunca deu problema, e não são os músicos que controlam isso, mas um rapaz da equipe técnica. A gente usava aqueles negócios no chão, que levanta e se apaga sozinho. Acho que aciona por controle remoto”, diz Eliel.
Segundo o baterista, os companheiros ainda não conversaram sobre o acidente nem sobre o futuro da banda, pois a única preocupação era de encontrar os colegas vivos.
Integrantes de outra banda desaparecidos
Valderson Wottrich, líder da banda Pimenta e seus Comparsas, que tocava na boate Kiss antes do incêndio, disse que dois dos quatro membros do grupo ainda estão desaparecidos.
A banda se apresentou entre 1h e 2h10, antes da entrada do grupo Gurizada Fandangueira, que usou efeitos pirotécnicos durante o show. O vocalista conta que foi difícil enxergar quando abriu a porta para sair do camarim. Ele e o outro integrante conseguiram sair a tempo, logo no início do incêndio, mas os outros dois integrantes estão desaparecidos.
"Conseguimos sair logo no início pela porta que tinha um metro e meio de largura. Só conseguíamos enxergar 5 centímetros à frente por causa da fumaça preta", relata.Globo