Minha filha de 5 anos é vaidosa. Gosta de pintar as unhas, usar batom, combinar roupas... Agora quer um spa-festa de aniversário.
Sua filha não está só. Basta ver a quantidade de lançamentos de esmalte e maquiagem para crianças e a multiplicação de espaços que oferecem, em vez de bolo e brigadeiro, cortes de cabelo, penteados e manicure para comemorar o aniversário de meninas. Mas não é porque ficou comum que se tornou saudável. "Produzir-se para imitar a mãe é normal. Transformar a vaidade no principal ponto de interesse, não", alerta a psicóloga Graziela Zlotnik Chehaibar, pesquisadora do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Na primeira situação, a criança passa um batom ou um esmalte e sai desfilando com o salto alto da mãe enquanto se vê no papel de uma mulher adulta. Com isso, exercita a imaginação e aprimora sua compreensão de si e do outro. Já quando a vaidade torna-se um valor em si, acontece um empobrecimento dos interesses e do imaginário. Produzir-se exige um tempo que certamente será roubado das horas de jogos e brincadeiras, essenciais ao bom desenvolvimento. Sem falar nas falsas limitações em nome do visual, como não pular na piscina para conservar o alisado da chapinha ou deixar de correr porque o sapato, muito bonitinho, machuca.
Professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Isabel Cristina Gomes diz que, em qualquer idade, um pouco de vaidade contribui para uma autoimagem positiva. "Mas, aos 5 anos, deve ser uma preocupação leve. O investimento na produção está ligado a contextos profissionais e ao jogo de sedução, coisas que não fazem sentido na infância." A longo prazo, a fixação por questões estéticas e de estilo pode ser desastrosa. "A criança internaliza a busca por um ideal de beleza e chega à adolescência obsessiva com a aparência, o que leva a problemas emocionais e aumenta o risco de transtornos alimentares."
Vale refletir sobre o que funciona como motor desse comportamento. Há famílias que valorizam demais a beleza, apontando-a como degrau obrigatório para o sucesso, e sobrecarregam as crianças com exigências estéticas, assim como alguns pais investem em uma superagenda escolar desde cedo pensando no futuro profissional. E há quem encha a filha de roupas para compensar o fato de não ter tido isso na própria infância.
Ok ser vaidosa. Mas estabeleça limites. "Se achar um pedido inadequado para a idade, recuse e explique o motivo, mesmo que ouça a famosa frase: `Todas as minhas amigas têm¿ ", avisa Graziela. Diga que poderá usar salto e maquiagem quando crescer, e não criança. Ou que ela fará um penteado no cabeleireiro se tiver uma festinha; senão, não precisa. O principal é elogiar o que ela tem (ou faz) de belo além de se produzir. Nessa idade, escovar os dentes direito e pentear o cabelo sozinha já merece comentários positivos. "Valorize os bons comportamentos. É bonito obedecer aos pais e tratar os outros educadamente."