Diante da ameaça de perder a eleição, a campanha da presidenta Dilma Rousseff partiu para um ataque sórdido contra a candidata do PSB ao Planalto, Marina Silva. Munida de impressionante desfaçatez, a propaganda do PT lançou mão, na última semana, dos mesmos métodos que combatia num passado recente. Numa tentativa clara de manipulação, a presidenta ocupou o horário eleitoral na televisão para dizer que a proposta de Marina Silva de conceder autonomia ao Banco Central vai enriquecer ainda mais os banqueiros e prejudicar a população. O vídeo, totalmente apelativo, mostrou uma família vendo a comida desaparecer do prato. As cenas estão recheadas de um cinismo explícito, pois o governo Lula, no qual Dilma foi gerente e chefe da Casa Civil, não apenas adotou a autonomia operacional do Banco Central como fez mais: indicou um banqueiro, Henrique Meirelles, para presidir a instituição e conferiu à presidência do BC o status de ministério. Nos dois governos de Lula, nem o Ministério da Fazenda, ao qual o Banco Central deveria estar subordinado, podia dar ordens a Meirelles. Se, como prega a peça publicitária do PT, seria lícito dizer que aumentar os juros é jogar afinado com os banqueiros, então nunca antes na história um governo esteve tão em sintonia com os bancos como o do PT.
A propaganda petista também agiu com descaramento quando acusou a adversária do PSB de se opor ao uso dos recursos do pré-sal para financiar a educação. Os petistas escondem o fato de terem resistido à proposta que destinou 10% dos recursos do petróleo para o ensino público. Na época das discussões sobre o assunto no Congresso, o governo atuou nos bastidores pela liberdade para escolher onde seriam feitos os investimentos. A verdade factual, no entanto, parece estar longe da campanha petista.As pesquisas realizadas depois da mudança no discurso da presidenta mostram que ela recuperou pontos na corrida eleitoral e neutralizou a vantagem de Marina Silva em um eventual segundo turno. A diferença, que já foi de dez pontos percentuais, caiu para quatro e as duas encontram-se empatada,s considerada a margem de erro, de acordo com o último Datafolha. Não foi a primeira vez, nesta campanha, que o PT recorreu ao medo e a golpes baixos a fim de obter êxitos eleitorais. Semanas atrás, numa nova tentativa de manipular o eleitor, a campanha petista comparou Marina aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, numa alusão à dificuldade que ela terá de governar, sob o risco de ter o mandato interrompido. A esdrúxula equiparação foi criticada até por petistas, como o senador Jorge Viana (AC). “Essa ideia de tentar comparar Marina a Collor e a Jânio Quadros é desinteligente. Ou de querer buscar desvio ético e moral na vida de Marina, isso também é perda de tempo e não tem nenhum sentido”, afirmou. Até agora, apenas um caso provocou transtornos para a campanha da presidenta. Os tucanos entraram com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reclamando do terrorismo eleitoral protagonizado pelo PT. O tribunal considerou a linguagem do programa petista degradante e inapropriada para uma disputa democrática e determinou a retirada do ar das agressões. Para o relator do caso, ministro Herman Benjamin, o tom adotado pela campanha do PT “não combina com a postura ética que deve nortear o debate político e as campanhas eleitorais”. A constatação é de que o PT age como se o fim justificasse os meios, sendo “o fim” a eleição de Dilma, e “os meios”, as práticas de terrorismo eleitoral. Pelo jeito, para o PT vale mesmo “fazer o diabo” para vencer a eleição, usando palavras da própria presidenta Dilma. Nesse vale-tudo, quem perde é o eleitor. (Istoé)