Crescimento do número de suicídios e de tentativas de autoextermínio, aumento do consumo de antidepressivos e ansiolíticos, elevação de afastamento entre profissionais de saúde: o diagnóstico é da Secretaria Municipal de Saúde de Brumadinho. Um ano após a tragédia da Vale, a cidade convive com o adoecimento mental de parte da população.
“Essa tragédia, esse crime, isso fez com que despertasse um movimento mental que tem adoecido as pessoas. Sensivelmente, é perceptível o adoecimento mental de grande parte da população”, diz o secretário Municipal de Saúde, Júnio Araújo.
Segundo o secretário, em 2019, o uso de antidepressivos cresceu 56% e o de ansiolíticos aumentou 79% em comparação com 2018. Os casos de suicídio passaram de 1 para 5, sendo 3 no município e dois na região, conforme a assessoria da prefeitura. Já as tentativas saltaram de 29 para 47. Araújo, entretanto, acredita que esse último número possa ser ainda maior.
“Quando a tentativa do autoextermínio não chega a êxito, a família, a própria pessoa tem vergonha de procurar o serviço [de saúde]. Dentro da família, eles tentam esconder e só vão à unidade de saúde quando a situação é mais gravosa”, explica.
A doméstica Vicentina Moreira do Prado, de 42 anos, traz nas mãos as marcas de sentimentos que surgiram após a tragédia em que perdeu uma prima, além de amigos. São feridas provocadas por mordidas.
“O psicólogo falou que, como eu não tenho ninguém para desabafar, eu estou mordendo a mão”, conta.
Segundo Vicentina, como grande parte da cidade está em luto, ela não se sente à vontade para falar dos sentimentos.
“Eu chego em Brumadinho, eu vou conversar com meus amigos — todo mundo perdeu alguém. O meu marido trabalha na Vale. Eu não posso conversar com ele porque ele perdeu muito amigo também. As minhas crianças são pequenas. Então, todo mundo que eu vou conversar sempre perdeu alguém lá na Vale”, conta a doméstica.
Vicentina vive na comunidade de Ponte das Almorreimas, lugarejo onde está sendo instalado um ponto de captação do Rio Paraopeba. Atingido pela lama, o rio teve seu uso proibido e agora é construído um novo local para a retirada de água, antes do trecho do rompimento da barragem.
Da janela de casa, Vicentina pode ver as obras que, segundo a doméstica, tiraram a paz e a tranquilidade da comunidade. Para ela, nestes últimos de 12 meses, o consumo de medicamentos e o tratamento com psicólogo e psiquiatra se tornaram usuais.
G1